Vinicius Sa
Vinícius Cavalieri de Sá Coutinho, born in São Paulo on March 8, 1992, is
a Brazilian guitarist and composer who is majoring in Film Scoring.

 

Vinicius works as the Online International Ambassador for Portuguese

language since January, 2014.


 

Algumas das perguntas que sempre aparecem na página da Berklee e que sempre recebo são: “como é a audição da Berklee? O que cai na audição? Como se preparar?”. São realmente tópicos que são explicados no site da Berklee, porém de maneira bem abrangente, não explicando exatamente como são todas as etapas da audição.

Uma das coisas interessantes de estar na Berklee há um certo tempo é poder ajudar as outras pessoas em relação à audição, poder contar um pouco da minha experiência estudando aqui e explicar todo o processo de inscrição para poder aplicar para a Berklee. Em uma das matérias aqui no blog eu falei sobre todas as etapas para poder se inscrever para a audição. E nesta matéria irei contar um pouco sobre a audição em si, e como tudo isso aconteceu para mim.

Eu fiz a audição para a Berklee em Novembro de 2011. No meu caso, fiz tudo em cima da hora. Estava estudando Produção Musical em São Paulo, e um dos meus amigos que estudava comigo tinha sido aceito para a Berklee no começo de 2011. Como tínhamos os mesmos gostos musicais, éramos/somos muito próximos, e ele sempre me incentivou a prestar para a Berklee também, porque acreditava no meu potencial. Porém eu não acreditava que poderia passar nesta audição, porque ouvia histórias de terror sobre ela e milhares de pessoas falando: “é impossível entrar na Berklee!” Se você ouviu algo parecido, pode ignorar. É igual as histórias sobre a alfândega no aeroporto, onde eles dizem que você será pego, sua mala será revistada e você terá sua bagagem confiscada. Mas enfim, depois de muito insistir em mim, decidi fazer a audição. Na altura do campeonato, faltavam apenas 2 semanas para a audição e eu não sabia como me preparar. Além dos documentos que precisava enviar para a Berklee, eu tinha que escolher uma música para poder tocar, tinha que estudar leitura, tinha que estar preparado. No mês de outubro, este meu amigo já estava aqui na Berklee e me deu dicas preciosas sobre a audição via Skype. Durante estas duas semanas até a data da audição, estudei várias horas TODOS OS DIAS e ralei bastante, revendo coisas que achei que eram importantes para a audição.

Chegada a data da audição, estava nervoso demais. Minha prova estava marcada para 16h, porém eu tinha que chegar no local às 11 da manhã. Durante este tempo, fui me acalmando. Até a hora que eles me chamaram. Eles me chamaram 15 minutos antes da prova para poder pegar a partitura e dar uma lida e estudada antes da audição. Naquela folha tinham 5 exemplos de aproximadamente 8 compassos, sendo o exemplo 1 o mais simples e o 5 o mais “complexo”.

Após estes 15 minutos, eu subi para fazer a prova. Estava nervoso pois iria tocar para professores da Berklee, e tinha medo de não conseguir me comunicar e meu Inglês me deixar na mão bem na hora, travando completamente. Quando entrei na sala, havia 3 instrutores. Um deles ficava no computador fazendo anotações sobre a performance de cada um dos aplicantes. Os outros dois eram mais comunicativos e me guiavam durante a audição. Logo no primeiro minuto fiquei mais calmo, pois eles eram extremamente tranquilos e criaram um ambiente agradável conversando comigo, fazendo piadas e fazendo perguntas sobre mim. Tudo isso enquanto eu montava minha pedaleira o mais rápido possível, já que são só 15 minutos de audição.

A primeira parte foi o “Prepared Piece”, a minha performance da peça que havia escolhido. Escolhi a música Manhattan, do Eric Johnson. Era importante escolher uma música com menos de 5 minutos, com playback e que contivesse elementos de dois ou mais estilos musicais. No caso, Manhattan engloba elementos de Jazz, fusion, e tem um groove bem interessante. É muito comum você ouvir de outras pessoas que você PRECISA tocar jazz na audição da Berklee. Desde já eu digo: isso é mentira.

Na segunda parte, um dos instrutores pegou um contrabaixo que estava montado naquele palco, subiu e começou a tocar comigo uma progressão simples de blues. Nesta parte eles testam suas habilidades de improviso, e também capacidade de manter uma base interessante para o outro músico poder fazer um solo. Se ele perceber que você está indo bem, ele vai prolongar esta mini-jam, trocando solos (o famoso trading fours ou trading eights).

A terceira parte consistiu da leitura de partitura à primeira vista. Esta é a parte que mais me assustou, e vejo que leitura é o tópico mais difícil e trabalhoso entre os músicos. Dos 5 exemplos daquela folha, eles deixaram eu escolher qual eu queria tocar. Eu escolhi o 2, porque fiquei com vergonha de escolher o 1 e com medo do 3 ser muito difícil. Depois disso, eles escolheram o número 4 para mim, pedindo primeiro para eu tocar a melodia escrita, e depois tocar a harmonia.

Na quarta parte, o mesmo instrutor que havia tocado baixo foi para o piano para realizar o ditado melódico. Sem eu poder ver as teclas, obviamente, ele tocou uma melodia bem simples em Dó maior (porém não mencionou o tom na hora), e pediu para eu repetir na minha guitarra. Ele procedeu com a mesma melodia, e a cada vez que tocava ia adicionando uma nota diferente, notas cromáticas, alterando entre maior e menor e diferentes modos, testando minha habilidade de reconhecer intervalos e percepção musical em geral. Conforme eu ia repetindo estas frases na guitarra, ele foi apelando até a hora em que não conseguia mais reproduzir, já que a melodia não tinha mais centro tonal e envolvia pelo menos 3 oitavas diferentes. Ele deu uma risada e falou que só estava brincando e eu não precisava repetir aquilo. Depois disso, ele realizou o ditado melódico, onde simplesmente tinha que repetir padrões rítmicos que ele fazia, utilizando palmas e marcando a batida com o pé (não é necessariamente assim para todo mundo, eu apenas escolhi este método, porém você pode escolher entre fazer o ritmo cantando, com a palma, ou qualquer coisa que quiser).

Logo após isso, a audição acabou e era hora de subir para a entrevista. De certa maneira estava mais calmo, estava preocupado com a parte anterior. A entrevista também é totalmente em inglês e tem a mesma duração de 15 minutos. É importante ler as perguntas deste link para poder ter uma ideia do que irão perguntar, para poder preparar respostas interessantes: https://www.berklee.edu/admissions/undergraduate/interview (eles não fazem todas estas perguntas) . Na minha entrevista, foram abordados tópicos como: meu background musical, como eu comecei a me envolver com música e projetos musicais que já havia realizado; como eu soube da Berklee o que me fez escolher ela; o que eu poderia trazer de útil e interessante para o ambiente da Berklee; quais são minhas metas para o futuro profissional.

Este foi basicamente todo o processo e a minha experiência com a audição e entrevista da Berklee. Pode parecer um pouco assustador, e a imagem que temos muitas vezes é a de que os instrutores serão bravos e a audição é um processo militar, tendo que necessariamente tocar jazz ou música brasileira. O importante para ter em mente é: escolher uma peça que seja de um estilo que você se sinta CONFORTÁVEL tocando, porém mostre um certo conhecimento de estilos e ritmos interessantes; se preparar e focar em estudar leitura de partitura e percepção musical; preparar algumas opções de resposta para as perguntas da entrevista no link acima.

Lembrando que: a Berklee não espera que você venha para a audição sabendo TUDO sobre música, sendo o “melhor do mundo” em tudo. Até porque, a Berklee é uma faculdade e você irá aprender muito nela. Porém, para ser aceito é necessário um certo conhecimento musical, e a bolsa de estudos que eles podem oferecer é por mérito no seu desempenho na audição e entrevista.