Analisando um pouco das minhas primeiras experiências com gravação no passado. Comecei com o Garage Band e uma interface de áudio Digidesign MBox 2, um equipamento razoavelmente bom para poder começar. Sempre gravava tudo no talo sem nem olhar o ganho dos canais na placa. O resultado disso era uma gravação suja e sem definição nenhuma. Mas naquela época não entendia muito e não era muito exigente em relação a isso, se estivesse registrado já estava valendo. Mixar? Nem sabia o que era isso. Equalizar? A única vez que eu fazia isso era quando mexia nos botões dos pedais de guitarra que tinha na época.
Conforme o tempo foi passando, meu ouvido começou a ficar mais exigente e ao ouvir as gravações antigas que havia feito, fiquei decepcionado com a indefinição das frases na música, o excesso de grave, falta de peso. E comecei a me perguntar como que as músicas que ouvia nos CD’s tinham tanto punch e peso. Foi aí que também comecei a fazer um curso de acústica e produção musical.
Embora estes cursos ajudem muito a treinar o ouvido para certas frequências e saber como funcionam compressores e equalizadores, não tem nada como a experiência prática no dia-a-dia. Comecei a compor e gravar músicas em casa com um microfone condensador Samson C01. Como não estava com amplificador de guitarra, gravava ela diretamente no Logic utilizando plug-ins como Amplitube e Guitar Rig. Já para o violão sempre utilizei o microfone, porque o som de linha do violão é extremamente peculiar e até um pouco estridente, possui muito médio-agudo e agudo.
Uma dica que sempre segui de um professor de masterização foi: “antes de começar a gravar, deixe todos os faders dos canais em -6.0 dB”. Assim, o volume não é super-saturado e você tem a possibilidade de ajustar o volume na hora da mixagem. Isso já deixa a gravação um pouco mais “limpa”. Uma das minhas dificuldades era saber onde colocar o microfone na hora de gravar o violão. Em um processo tedioso, porém necessário, de ir tocando o violão e deslocando o microfone ao redor do violão, percebi que quando mais perto da boca do violão (corpo), o microfone irá captar em excesso a frequência médio-grave, e consequentemente embolar o som. Quanto mais perto do braço, mais da frequência médio-aguda será captada.
Depois de muitas tentativas de posicionamento do microfone para gravar violão, percebi que o melhor lugar para microfoná-lo é à vinte centímetros de distância da décima segunda casa do violão (oitava), com a cápsula apontando para a boca do violão. Deste jeito há um certo equilíbrio entre as frequências. Recomendo esta maneira para gravar violão usando palheta. Para um violão dedilhado, desloco o microfone um pouquinho em direção a boca para registrar um pouco mais do médio-grave e deixar o som mais encorpado. Deste jeito, a equalização será muito mais simples. Uma dica valiosa: sempre grave do melhor jeito que você puder. Poupará MUITO trabalho na hora da mixagem.
Se você tiver dois microfones, melhor ainda. É ideal para captar toda a gama de frequências do instrumento, posicionando um bem perto do corpo do instrumento e outro perto headstock. Cuidado com o posicionamento dos dois, as cápsulas alinhadas retas para não ter problemas de cancelamento de fase. Assim, a imagem “stereo” do instrumento será maior e mais envolvente na hora de ouvir a gravação. Já vi também técnicas onde são posicionados dois microfones do lado dos ouvidos do violonista, ou seja, eles irão captar o som que ele ouve. Importante lembrar que não existe certo ou errado, existe novas maneiras e experimentos que você pode fazer com mais de um microfone.
Como o microfone condensador é muito sensível, ele irá captar também frequências graves que podem ser consideradas como “sujeiras”. Para evitar “embolamento” existe o maravilhoso “low cut” no equalizador, onde você pode cortar todas as frequências graves que não são necessariamente da natureza sonora do violão (abaixo de 100 Hz).
E uma coisa extremamente importante que faz toda a diferença: dobrar a track. No momento em que você terminar de gravar o violão, abra outra faixa e grave exatamente o que você acabou de gravar de novo. Feito isso, deixe a primeira faixa com o pan totalmente virado para o falante esquerdo e a segunda faixa com o pan totalmente virado para o falante esquerdo. Este processo de “dobrar” as faixas ajuda a deixar o som muito mais encorpado e vivo, além de aumentar muito a imagem “stereo” da gravação.
Aprendi recentemente uma técnica de gravação para contra-baixo ao produzir e gravar músicas da minha banda. No caso, as músicas eram “metal”, exigindo bastante peso. E simplesmente descobri o melhor jeito de gravar contra-baixo para este estilo pelo menos: plugar o baixo a um pedal de overdrive, microfonar o amp de baixo utilizando um microfone de “bumbo” (mais sensível as frequências graves) e somar com o sinal “line out” do amplificador. No amplificador, deixe o “bass” no máximo e tire as frequências “mid” e “treble”. Deste jeito, o microfone irá captar somente o grave, enquanto que o sinal line out é livre de alterações pelas regulagens do amplificador. Assim você terá um canal com a frequência grave e outro com a frequência aguda, podendo somá-los e controlá-los independentes um do outro. O overdrive deve ser usado com o ganho muito baixo. Ele ajuda a encorpar o som do baixo e trazer peso para a gravação.
Vale lembrar que trocar as cordas dos instrumentos antes de gravar é imprescindível.
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João Pontes
Amigo, gostei muito das suas dicas. Em relação ao baixo, as duas faixas gravadas ficam no centro do stereo mesmo? E sobre o violão, como pode haver o cancelamento de fase? Existe algum programa pra simular essa captação de amp do baixo, usando ele somente em linha? Desde já te agradeço. Abs.